Curso de Manejo e Conservação de Butiazais e IV Seminário da Rota dos Butiazais: agricultores, Embrapa, APA da Baleia Franca e CEPSUL em parceria para a conservação de espécies ameaçadas de extinção

(Itajaí - 24/02/2017) São conhecidas 20 espécies de butiá, todas nativas do sul do Brasil e países vizinhos (Argentina, Paraguai e Uruguai) e todas ameaçadas de extinção. A principal ameaça é a substituição dos butiazais por áreas agrícolas e urbanas. Esta substituição ameaça também uma ampla variedade de espécies da flora e da fauna nativas, de ocorrência natural nos butiazais. Em Santa Catarina, Butia catarinensis é o butiá mais comum nas dunas, restingas e no entorno de lagoas costeiras.

Produtos não madeireiros do butiá são utilizados, tradicionalmente, de várias maneiras: envolvem a produção de chapéus, cestas, colchões e vários outros produtos artesanais oriundos de suas folhas e coquinhos, além da polpa, suco, geleias e cachaça, elaborados com seus frutos. Estes usos fazem parte da cultura e subsistência das comunidades que vivem próximo aos butiazais, as quais têm lutado pela sua conservação.

Visando agregar parcerias e conhecimentos para a conservação de butiazais foram realizados, nos dias 16 e 17 de fevereiro, o Curso de Manejo e Conservação de Butiazais e, no dia 18 de fevereiro, o IV Seminário da Rota dos Butiazais, ambos no município de Imbituba/SC. Estes eventos foram motivados pela importância da integração dos butiazais e de suas formas tradicionais de utilização no Plano de Manejo da APA da Baleia Franca, atualmente em elaboração. Organizados em parceria entre a EMBRAPA, a ACORDI (Associação Comunitária Rural de Imbituba), a organização Butiá catarinensis, o IFSC Garopaba, o CEPSUL e a APA da Baleia Franca/ICMBio, o Curso e o Seminário trouxeram palestras e oficinas promovidos por pesquisadores e agricultores destas instituições e também da UFSC, da Intendência de Rivera/Uruguai e do Movimento Slow-Food.

Rosa Lia Barbieri, pesquisadora da Embrapa, coloca que "os dois eventos foram uma oportunidade para consolidar a Rota dos Butiazais, um projeto da Embrapa que se propõe a articular os saberes locais com a conservação e o uso sustentável dos butiás". Lia ressalta que o butiazal dos Areais da Ribanceira, em Imbituba, é um exemplo especial de conservação pelo uso, devido ao manejo realizado pela comunidade local ao longo de várias gerações. A antropóloga Raquel Mombelli chama a atenção para o fato de que há uma relação histórica de afeto e respeito da Comunidade Tradicional dos Areais da Ribanceira com os butiás. "Essa relação é parte de um legado deixado pelas antigas gerações das famílias que tradicionalmente ocuparam aquelas áreas de terras pelo sistema de uso comum. Assim, essa relação com os butiás precisa ser compreendida como parte de um sistema indissociável às práticas de cultivo de mandioca, extração de ervas medicinais, pesca artesanal e uso comum das terras, atividades praticadas secularmente pelos membros dessa comunidade. E é justamente a existência desse sistema - dessa forma especial e tradicional de cuidar da natureza local – que nos permite observar hoje as densas malhas de butiás distribuídas em todo o território da comunidade. Essa relação especial com os butiás é parte do regime identitário dessa comunidade e foi cuidadosamente registrado no Fascículo n.20 do projeto Nova Cartografia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, publicado em 2011."

Para a ACORDI, "sediar este evento não significou apenas comemorar a colheita do butiá, mas discutir os aspectos relacionados ao seu manejo e a manutenção do patrimônio imaterial que o envolve".

Cecil Brotherhood de Barros, gestor da APA da Baleia Franca, considera que "o evento abriu uma importante oportunidade para se dar visibilidade ao tema da conservação dos Butiazais dentro do Plano de Manejo da APA, além de ter permitido um grande intercâmbio de ideias, conhecimentos e oportunidades de atuação conjunta em favor do uso sustentável dos butiazais." Ronaldo Costa, analista ambiental da APA, complementa colocando que "o foco no butiá é extremamente relevante, por ser uma espécie de reconhecida importância ambiental e cultural. Tal reconhecimento reforça a necessidade de aliar a preservação e conservação do meio ambiente à sustentabilidade no uso dos recursos naturais contidos no interior das unidades de conservação de uso sustentáveis, assim como no entorno das unidades de proteção integral. Desse modo, a proteção e o manejo sustentável dos butiazais vêm como um forte tema gerador para a educação ambiental e o desenvolvimento da noção de sustentabilidade na região sul do Brasil. Nesse sentido, acredita-se que as discussões e trocas realizadas no decorrer do curso e seminário enriqueceram o processo de construção de normas no âmbito do Plano de Manejo da APA e também para as normatizações incidentes na esfera municipal."

Para Elisa Martins, do IFSC Garopaba, "considerando que o Butia catarinensis é uma espécie em risco de extinção, que teve sua área de ocorrência natural bastante reduzida principalmente pela expansão urbana e industrial, como ficou claro durante a oficina de mapeamento comunitário realizada durante o Seminário, esse evento e seus desdobramentos são de fundamental importância para a valorização deste patrimônio natural tão importante para a identidade deste território."

Walter Steenbock, analista ambiental do CEPSUL, chama a atenção para a relação do manejo e conservação dos butiazais com a conservação das lagoas costeiras do sul do Brasil, objeto de um Plano de Ação (PAN) específico, o "PAN Lagoas do Sul", neste momento em início de construção. "A proposta do PAN Lagoas do Sul é identificar, valorizar e promover a integração entre ações de diferentes atores sociais que contribuam para a conservação das espécies e dos sistemas lacustres e lagunares da planície costeira do sul, criando um Plano dinâmico, participativo e com capacidade de governança territorial. O Curso e o Seminário, ao promover o conhecimento e a integração de atividades para a conservação de butiazais, foram, sem dúvida, de grande importância para esta construção", finaliza Walter.

 

img 2017 02 butiazal img 2017 02 butiazal2 img 2017 02 curso manejo butiazal img 2017 02 curso manejo butiazal2
 img 2017 02 curso manejo butiazal3  img 2017 02 curso manejo butiazal4  img 2017 02 curso manejo butiazal5  img 2017 02 curso manejo butiazal6
 img 2017 02 curso manejo butiazal7  img 2017 02 curso manejo butiazal8  img 2017 02 curso manejo butiazal9  img 2017 02 curso manejo butiazal10